terça-feira, 23 de julho de 2013

Abrigos nucleares

não lembrávamos mais de como sentir dor
ainda assim acabaram os analgésicos
um amontoado de memórias
caixas de papelão e mordaças
amamos a todos que apareciam
oferecendo um pouco de conforto e luxúria

queremos o corpo de qualquer deus
em frascos os que enfeitem prateleiras
temos poeira e o nascimento de outro salvador
era tudo aquilo que podíamos carregar

apodrecíamos debaixo do mesmo sol
com nossas carcaças salgadas
lambendo os beiços
tremendo de frio
ostentando um bocado de medo
do escuro
este que poderia ser o único abrigo

não temos muito o que reclamar
desistiríamos
cuspiríamos
cobriríamos nossos corpos
com a vergonha de não querer despertar
abrir os olhos
nossos olhos brilhantes
que varreriam distancias imensuráveis

não tememos a sombra do outro
tudo é tão limpo e imperfeito
as vidraças e abraços forçados
os beijos e jeitos de andar
queríamos o melhor caminho
transaríamos e deixaríamos
nossos restos espalhados pelo chão
pedimos a chuva e ela veio
afogando a todos os que nos olhavam
com seus semblantes vulgares

um pouco do nosso sangue

era desejo que baste
e matariam por isso

antes do anoitecer
arrancaram-lhes as cabeças
um a um

e nenhum ao desespero
lhe trariam os filhos
nem choro nem berro
nem os sonhos profanos
as belas imagens
paisagens
um punhado de flores nos bolsos
o perfume de onde devemos voltar


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sábado, 20 de julho de 2013

Indefeso

Estou cansado. Me faltam palavras. E as que ficaram. Partiram em silenciosa revoada. Tentei exprimir a lágrima que corre no papel. E diante dos anseios. Me calo e não me ouso. É estranha emoção que ensaia uma prece. Uma prece que vem do final de mim. E indefeso em meu castelo abrigo uma mentira. Que sussurra em meus ouvidos em tom de alegria. Embalando os sonho que esqueci. Estou cansado!

sexta-feira, 12 de julho de 2013

breve ensaio sobre o ego parte III

essa tosse presa na garganta
cantaram a chegada do rei
o momento de desistir é agora
tenho medo da desilusão
viver um proposito barato
a sombra e água fresca
quero sentir prazer imediato
não me preocupar com isso
quero sentir lamber beijar

como o reflexo no espelho
sonhar angústias de um futuro próximo
pretérito imperfeito
o acaso dos momentos ordinários

vender minha alma ao primeiro que passar

cair e deixar de lado o ferimento
aprender a andar

antissépticos e contraceptivos
todas as armaduras de defesa
rodos os lados necessários
um quarto apertado nos fundos do quintal
a vida eterna e a noite
a sordidez que desnuda os olhos
as mãos imundas e corpo cansado
esperando desesperando
querer ainda todo o resto do mundo



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quarta-feira, 10 de julho de 2013

Assassinos da Noite (Frio que Gela)



















assassinos da noite,
fria e assombrada,
pelo vento que gela,
minha triste jornada,
solitário nas ruas
o pesadelo revela,
tantas surras cruas,
que me foram dadas;

frio da madrugada,
pés descalçados,
chão de rodoviária,
meu leito, morada,
miserável futuro,
tormento insuportável,
rezo sem fé, eu juro,
só quero sobreviver,
somente hoje mais,
na esperança de ver,
meus sonhos enterrados
sorrirem pra mim...

carícia da fome,
amargar de agrura,
dois dias não come,
dolorosa aguda
sensação de desmaio,
desespero e terror,
do inferno um ensaio,
implorado clamor
ao que seja, no além,
que veja minha dor,
algum caridoso alguém,
e eu não termine morto,
torto, queimado,
à noite, refém,
da sorte e do azar,
que possa meu corpo
sem medo esquentar...

só mais esta noite,
como se fosse a última...




Bem, cabe a esse poema ser extremamente aquilo que chamam de contracultura, de verdade, de oposição, de reação... Eu até gostaria de ser genial, mas não sou nenhum Baudelaire, então que isso seja uma singela mensagem... Pelo tantos mendigos que eu vejo as vezes de noite, na rodoviária passando frio... O mundo não é bonito, mesmo que não seja só porque eu deteste Paraty, é porque ela não é feita só de beleza comercial.