sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Eterna Noite





cheiro de grama,
verde acolher sobre terna penumbra,
do outro lado,
nos abençoam os holofotes,
no rio, à beira...
tão pura, ela cheira
a maresia, eis que o legado,
de sussurros, num apaziguar,
num adormecer, transmutar de realidades.

curvas tuas, sentindo, o meu tocar,
plainar, em suspiros de ventos de noite,
não há fim, não há dia, eternidade,
um segundo que parou,
um minuto que nos amou,
um existir apenas nele, sem findar...

enrubescido infante rosto, lunar,
em calmas águas, se mostrando,
sem de fato à lua estar, o que há?
o que há em meu dizer, no meu temor,
de que irreal seja minha elegia,
minha alegria,
ainda aprendiz do que me ponho a sentir.

e diziam, outrora, ser sábio, à perfeição,
não, é simplesmente viver-se em mistério,
é viver temendo a si, como apostador,
e rir da queda, de um falso degrau no nada,
e ainda ali estar, lhe contemplando,
esperando, apenas o melhor, em tua ternura.



























quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Elegia dos Ratos




oh, enluarada profunda noite, lamentos resguardas!
cravejada negra seda de vivos murmúrios,
de nós; em lívidas livres lágrimas ao prol de augúrios,
te fazes vaidosa, em ares de materno afago,
e eu, só, a esperar uma eternidade, - me fardas!
a proferir, co' uma ingênua morta estrela, o que lhe indago;

[do cigarro, sob a torre do relógio, um trago,
e por abaixo urbanas luzes, da fumaça dispersas se esquecem...]

tantas dessas, quantas mais me vou em aguardo?
- água arde, do olhar, mas não cura!
a protelar-me, será que tardo,
até o vindouro findar de minha merencória lisura?
quão será, que suporto o pesar de meu fardo?

telhados caminho, sozinho, de mim distante,
marotos passos, de um malandro estranho, sem prezar,
por seguro, dentre males tantos, sem prantos, firmar,
um alguém, sem ninguém, de vagar desconfiante,
um ir-e-vir que conflitante, me sugere risonho, desistir,
de meu ingênuo, e tão inseguro singelo existir,
sem anjos aos quais, possa eu, veemente, vez sequer rezar;

em universos de fatos, mais inversos acatos, que adentrei,
um sentir-se minúsculo, detenho, perante à vontade,
frágil, quão sou!... ao perceber-me, vago, relutante,
sem algo fazer, atado em sem saberes, nó sem verdade,
deveras, um ser, assim dito, solitário, no montante
decorrido, de anos, e sem nada comigo, à posteridade...
tão simplório, pacato, desarmado, à minha elegia que não sei.





Quebre o Silêncio




por que você teme,
o que é pra ser feito,
na hora exata
de não se fazer?

por que você chora,
o medo extirpado,
um beijo escarrado
à treva, em tua alma?

por que você se espanta,
se o mal aqui canta,
lhe tornando maior,
a gritar, a gritar sem maldade?

o que vais fazer,
senão, o que resta,
no silêncio, a besta,
à tua mente, que infesta
- te detesta! te pune sem porquês.





Posso eu tocar em tuas orquídeas?




























vento da tarde, azularado céu,
vermelho tapete, monstro sou,
varanda contemplo, parado,
olhar torto, mirado,
aqui sou,
restou,
nosso silêncio.

sinto insano estar, seremos será?
sabemos, distante em demasia somos do mundo...
e eu de ti.
nasci,
desse jeito, e não sei mudar,
mesmo se soubesse, jamais o faria
marginal jazendo a admirar
lilases flores tuas, manusear queria...

quão terrível aparento,
demônio hediondo, perigo, aval,
à perdição sem penitência,
cujo desprezo, é normal,
talvez, o jeito meu, gere tal tendência,
mas de ti, é tão letal!
ultimamente... irrelevante.

aberração perante
sem pena arrependido,
cujo orgulho, contido,
transborda lágrimas, desprezo,
receoso querendo sumir,
é frio demais pra conseguir
por um segundo chorar,
florescido amargo ódio
então, eis que inesperado;
anjo em rancor,
quer partir, tem de ficar;

ânsia em ferir,
sumir, largar,
num bramir,
despir, pisar...
tentando fingir,
devendo beijar,
louca estranha situação,
é assim o amar,
necessária involuntária corrosão.

digno sou de orquídeas tuas tocar?
nem sequer por um momento,
frescor sorver, solar poer fitar,
aqui, será eu maldito demais?!
as contaminarei, delicadas,
as tornarei
infernais!?
lhes jurarei maculadas,
as farei
mais mortais!?