terça-feira, 24 de julho de 2012

em troca de cartazes luminosos


o que servia tão desigual irresponsável desnaturado
afetado a mente que rouba sensações e cansa
descansa em buracos e penetrações e guimbas de cigarro
repulsa e vontade de vomitar e no fim que se chega
concluo despretensiosamente a mesma coisa repete
sempre repete como que nada acontece de forma diferente
redundante e sem anseios e outros desejos ou sonhos
inalterados inacabados acabo como sempre ei de terminar
ei de que eu que não sei de muita coisa sei de tudo
e com o tempo caduco e repito e recosto em paredes
ornadas com o mofo que cresce e se espalha e gruda na roupa
o acaso desmente todas as minhas verdades
já muito servem para pouco ou esterco
mas não tenho jardins ou hortaliças nem terra
nem espaço para morrer ou sonhar que se resta
preza e paga o preço por ser demais contrário
que nada passa de uma ilusão como qualquer de fato
e de repente canso ou cansaria de tudo e quereria nada
iria querer um pouco de olhos e mãos e bocejos
querer tudo em mesma cama
mas sempre hei de estar em camas erradas

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Uns dos porquês que as flores morrem

Diziam que era bela. Belezas dessas que precisam de remendados adornos. Toda quinta-feira tomava seu remédio. E passava sorvendo-me os últimos pedaços de infância. Época que as calçadas eram feitas de verdades eternas. E os pecados ainda ficavam para os abraços dos cobertores. Quantas vezes eu amei a novela e a ponte que trazia em seu corpo. Um dia atravessei a ponte e os lápis perderam as cores. Nascia o poeta que não queria nascer, o poeta meio, o poeta não. Bem vindo piso frio, rosto seco que sossega todas as grades. Bem vindo homem de bem, atalaia das horas sem pressa. Pro inferno o intelectual! Necessito de uma ignorância que me compreenda. Que me dê o calor de novas cicatrizes. Enquanto não descobrirem que estou aqui calado á margem da linha. E que o ponto final só existe na poesia para quem ler. Rodrigo Passos

sábado, 14 de julho de 2012

Elogios Constringidos



antigo amável amigo
há muito anseio alçar,
teu pescoço, alcançar,
tomá-lo à mão,
sentir pulsar;

pele estranha,
escamada viçosa,
arranhada à prosa
duma raiva imoral,
acerto mortal...

farsante exemplando o sempre dito,
o que outrossim outrora ouvi,
descrendo em traíras, também os tendo,
cigarro trago, apago, acendo...

chutadas mesas, vidraçais lascados,
laminadas folhas de instante abrupto,
grita o sangue, escorrido usurpado,
a caíres nestes, de vivas cores acertado,

reação sustada, assustado semblante,
braços tendidos, prendidos na estante,
bater-lhe a cabeça, e conseguinte esta acima,
cai sobre ti, atrita-se um livro ao carpete,

chutado estômago, âmago agora curvado,
arroxeado olhar, me é um vaso atirado,
urros, murros cruzados,
tiros de brados,
ligeiros, marcantes...

ferocidade corteza,
vileza humana,
eis-me à gana,
de contigo acabar!
traidor
que dor
causaste,
gestor
do horror
qual, legaste,
misterioso
mal duma emboscada,
laborioso
retomar de minha jornada...

cinismo
recebido,
quando vim
ainda sim
banido,
tido
como ameaça,
simplismo
devolvido,
pois, de mim,
dum jeito assim
inibido
sido
em quase nada...

susto,
custo
de ser,
um bastardo,
em que tardo
pois, por
ver,
posto
rosto
descrer
intentando,
recuando
sem chão
ter...

em vão
a mão
não
é,
visão
dum cão,
então
até,
senão
o pão,
que dão
co' o pé...

antigo amável amigo,
que consigo enviaste tantos males,
anseio ante a ti, que agora fales,
sem falar poder, sem o poder de respirar...

quão contente estás, em ver-me andante,
e ardente é de vós, a volupia inquieta,
em exaspero, não lhe permitindo estar perante,
a mim, sem por um excêntrico acidente se engasgar.



Rainha do Tempo




sob tal imponente nefasto palácio,
à costa dum oriental deserto de rubis lapidadas,
e de incongruências mil, rogadas;
às parasitas de escravos, seguindo à rainha,
em montarias cujas, sujas langues engatinham,
pois, vós, mensurem, tal lumioso portal,
qual, domina ela, e nenhum mais imortal;

abismo de todos os tempos, e estações,
de colheitas férteis, e auspiciosos impérios,
inimagináveis abismais desastres, divinais trovões,
profanos reis, de dantescos bustos,
ostentando terríveis gafanhotescas presas,
pairando ali, abaixo o céu, mil corvos robustos,
o trincar de juradas espadas forjadas;

prontas ao sacrifício,
à lascívia das águas,
de um lago em miragem,
bebendo a carnagem,
iluminada e dançante,
no poder de um instante,
às silhuetas cujas, curvadas,
dobradas temidas,
tímidas assombrosas,
escoltam-se ao marchar,
de colossais brutas aberrações,
perpetrando a grandeza
do real sinfônico absurdo...

o tumbar hórrido da eternidade,
em frígido oiro de gongos supra terrenos,
troando grotescas vastas procissões,
cabisbaixas, de ingênuos murmúrios.

em distorcidas cores, mil raios,
celestiais raizes vicejam vertendo,
verossímil vistosa venusia volvendo
vinte vingados verões, consigo trazendo;

gigantes
lacaios,
empíricos
épicos
marchantes
ensaios
de se como era antes,
do sol se apagar,
o negrume tragar,
por meros instantes,
estágio
do fim,
o eterno
infindável
presságio,
abismal
vacuidade,
o confim
de holográficos
milênios
passados...
segundos
seguindo
estagnados
em oriundos
selados
séculos
trancados...

à chave!
à clava!
o clamor
do ardor
em horror
pela dor,
do desconhecido,
um incognoscível
a mais,
detrás
os tais
tantos
cantos
cantados distantes,
diversos supostos,
opostos visados,
vastidões semelhantes,
chocantes infernos,
inversos vislumbres
vistas vagas
viagens, vertigens
de imagens,
mensuradas inefáveis,
afáveis delírios,
rios da dissolução
de expansão incriada...

eis a horda ainda em marcha,
ínfimos gigantes dum pensamento
absortos, de almas sorvidas,
no transfigurar da dissolução...

eternidade, espaço, tempo...
exemplo de traço, à imensidade,
mais uma, estrada paralela,
ligeira, a existir sob a infinidade!

e ainda lá acima um monte, vejo a donzela,
de arroxeada pele, e adornada face nenhuma,
a erguer vitoriosa atlética, o cinturão dourado,
encarnada e temporal raínha, apenas mais uma;

neural ínfima, monárquica humana parcela,
de invocar capaz, até mesmo o não vivido,
dum universo onde jamais se houvera ouvido,
senão tão aterradora paisagem, tão bela;

a contemplar noturnas gamas de cosmos,
celulares membros duma unidade expansiva,
intensiva; n' outra mais vasta estrutura,
colossal se espargindo infindável, explosiva;

sem começo ou fim... a ser apenas sendo,
o além do irreal ou paupável, rompendo,
a substância do existir em constante mistura,
e uma gota ao mar, é o conceito, que tudo isto apura...

escutar ainda posso, paquidérmicas infantarias,
pressinto agourarem os selvagens, com suas feitiçarias,
o trespassar à procissão, imensa, grotesca,
selar-se o portal, e ir-se junto aquela figura arabesca.