sábado, 24 de dezembro de 2011

benção

ando sendas desconhecidas

em devaneio envaidecido
orgulhoso da ignorância
benção acalma olhos
ávidos por choro
forço vontade passageira
diferentes formas de contato
experimentando o abstrato
rabisco em palavras desconexas
o amor que não acredito

sábado, 17 de dezembro de 2011

desconcertado

quanto ia
vontade não faltava


agora volto
perco


procuro
lados errados


moedas velhas


sou de fato
contrário ao que acredito


retalhos
calo-me
falo alto demais


volto
desvio
acalmo
ainda tempo


demais erros
indefesos


parede concreto
matéria
filamentos


perdi vontade
perdi a ida
perdi a volta


ainda mais que o acaso
fico aqui parado
calado
lento


sem um pingo de saudade
sem lágrima
mágoas e desejo
nada em punhos fechados


me nada resvalo
me deixo acaso
me calo
quieto


acabo

domingo, 11 de dezembro de 2011

Sectário do fogo




concedo-vos meu sangue...
ó, superiores forças, que no sol habitam!
incendeiem quão quiserem...
meu frígido empírico espirito lângue!

- feneçam os áusteros desgastes...
ao banhar d' aura sob o fulgor!
refocila-me, sol; pois hei de ter de defrontar
quaisquer temores a vir, pungir, tão quão vencera-me a dor!

venham-me, pois, sectárias flamejantes salamandras,
minha diurna odisseia permear, dêem-me as chamas,
de vigorosas vívidas lívidas livres tramas
por minha pele sorvidas, sentidas, em mãos de fogo se transformam...

o corpo em labaredas se entrega, sem queimar,
indestrutível confragra-se o selo a vigorar,
eterno, instâncias mil conquistando,
lumiando, e toda involucral humana treva destruindo...

legionárias, marchando em solares flâmulas,
lutai vós, por um de seus companheiros, mais fiel,
dêem-me o mais terrível quente fulgente poder,
a destronar os males nossos, e um novo caminho nos conceder!


quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Dizei-me por obséquio: um homem que odeia a si mesmo poderá, acaso, amar alguém?
Um homem que discorda de si mesmo poderá, acaso, concordar com outro? Será capaz de
inspirar alegria aos outros quem tem em si mesmo a aflição e o tédio? Só um louco, mais
louco ainda do que a própria Loucura, admitireis que possa sustentar a afirmativa de tal
opinião. Ora, se me excluirdes da sociedade, não só o homem se tornará intolerável ao
homem, como também, toda vez que olhar para dentro de si, não poderá deixar de
experimentar o desgosto de ser o que é, de se achar aos próprios olhos imundo e disforme, e,
por conseguinte, de odiar a si mesmo. A natureza, que em muitas coisas é mais madrasta do
que mãe, imprimiu nos homens, sobretudo nos mais sensatos, uma fatal inclinação no
sentido de cada qual não se contentar com o que tem, admirando e almejando o que não
possui: daí o fato de todos os bens, todos os prazeres, todas as belezas da vida se
corromperem e reduzirem a nada. Que adianta um rosto bonito, que é o melhor presente que
podem fazer os deuses imortais, quando contaminado pelo mau cheiro? De que serve a
juventude, quando corrompida pelo veneno de uma hipocondria senil? Como, finalmente,
podereis agir em todos os deveres da vida, quer no que diz respeito aos outros, quer a vós
mesmos, como, — repito — podereis agir com decoro (pois que agir com decoro constitui o
artifício e a base principal de toda ação), se não fordes auxiliados por esse amor próprio que
vedes à minha direita e que merecidamente me faz as vezes de irmã, não hesitando em tomar
sempre o meu partido em qualquer desavença? Vivendo sob a sua proteção, ficais
encantados pela excelência do vosso mérito e vos apaixonais por vossas exímias qualidades,
o que vos proporciona a vantagem de alcançardes o supremo grau de loucura. Mais uma vez
repito: se vos desgostais de vós mesmos, persuadi-vos de que nada podereis fazer de belo,
de gracioso, de decente. Roubada à vida essa alma, languesce o orador em sua declamação,
inspira piedade o músico com suas notas e seu compasso, ver-se-á o cômico vaiado em seu
papel, provocarão o riso o poeta e as suas musas, o melhor pintor não conquistará senão
críticas e desprezo, morrerá de fome o médico com todas as suas receitas, em suma Nereu
(34) aparecerá como Tersites, Faão como Nestor, Minerva como uma porca, o eloqüente
como um menino, o civilizado como um bronco. Portanto, é necessário que cada qual
lisonjeie e adule a si mesmo, fazendo a si mesmo uma boa coleção de elogios, em lugar de
ambicionar os de outrem. Finalmente, a felicidade consiste, sobretudo, em se querer ser o
que se é. Ora, só o divino amor próprio pode conceder tamanho bem. Em virtude do amor
próprio, cada qual está contente com seu aspecto, com seu talento, com sua família, com seu
emprego, com sua profissão, com seu país, de forma que nem os irlandeses desejariam ser
italianos, nem os trácios atenienses, nem os citas habitantes das ilhas Fortunadas. Oh
surpreendente providência da natureza! Em meio a uma infinita variedade de coisas, ela
soube pôr tudo no mesmo nível. E, se não se mostrou avara na concessão de dons aos seus
filhos, mais pródiga se revelou ainda ao conceder-lhes o amor próprio. Que direi dos seus
dons? É uma pergunta tola. Com efeito, não será o amor próprio o maior de todos os bens?

Erasmo de Rotterdan

sábado, 3 de dezembro de 2011

Crocodillos de esgoto



À meia noite,
eles vão voltar,
invadirão a cidade,
vão nos matar!

despercebidos
atacarão,
tão repelidos,
retornarão!

crocodilos de esgoto,
uma praga assassina,
farão a chacina
por cada quarteirão!

nas ruas incautos,
das cidades imundas,
se arrastam em asfaltos,
agora sujos de sangue...

o terror habita
as mentes humanas,
as carolas profanas,
civis e soldados,
que o mal se repita!
estão todos condenados,
padres e políticos,
ladrões inocentados,
todos sob a mira,
a mira da morte,
a morte no corte
dos dentes vorazes!

o terror habita
as mentes humanas,
as boiadas insanas,
todos alienados,
que o mal se repita!
estejam todos ferrados!
tolos e criticos,
canalhas armados!
e na calçada se vira,
o fraco e o forte,
ambos sem sorte,
sob as garras mordazes!

nas ruas incautos,
das cidades imundas,
se arrastam em asfaltos,
agora sujos de sangue...

crocodilos de esgoto,
uma praga assassina,
farão a chacina
por cada quarteirão!


Bem... essa foi uma singela letra que eu escrevi tocando violão... se curtir comenta ai, vlw
\,,/ *__* \,,/

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

No meio

Estou sentado bebendo.
Criando vozes pro anjo
que não desce.
Fazendo eufemismo pra facilitar meu convívio.
Meu sorriso não diz nada de mim.
Mas brinco com o que é alheio.
E solto palavras ao encontro de outras verdades.
Ao homem comum que come e morre.