sábado, 27 de agosto de 2011

Elemento

Queria fazer um poema que te tocasse.
Que até no raso fosse profundo.
Um poema que não lhe falasse de fé.
Mas que fechasse suas fissuras.
Esse poema não teria cheiro, não teria cor.
Não teria a métrica de um poema, mas seria vivo.
Viva como a água que te banha na madrugada.
Água que te fala palavras ingênuas.
Esse poema seria nosso, só nosso, sem publicidade.
Seria nosso silêncio, nossa fusão, nossa profecia.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Pragmáticas conclusões



Marionetes não fritam ovos!
papagaios engolem "vrido",
ninguém, em quaisquer povos,
com isso houvera rido...

canários miam,
gatos voam,
cenários caíam,
canalhas entoam...

a ode da balbúrdia!
e ao cataclisma dançam todos,
chovem rodos,
que a tsunami remedia.

os ovos caíram ao chão,
papagaios morreram de congestão,
termina esse poema,
porém protela-se, o humano dilema...



quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Um grito do abismo



à treva estrida o grito,
agudo e mortal,
atroz terroroso,
o rasgar do silêncio,
e por qual, me influencio...

torturoso ecoar da infindável profundeza,

à inconsolável beira do abismo do inferno...
que me ao cerrar dos olhos, ostenta a grandeza,
de em nada com a perspectiva diferir,
eis-me ao tormentoso arrepio - o medo de cair...

revela-se a face, dum espectro do submundo,
veloz, repentino,
me arrastando ao fundo,
do abismo mental,

um viveiro do mal...

terrivel semblante disforme, de eterno desespero,
exangue demônio ao voráz exaspero...
esfolo as mãos por desse chão não me soltar,
o abrupto desvencílio, à reação horrorizada...

o contemplar desse exílio, nesta noite, maculada...




Quem sabe esta vez, pude eu, exprimir um pouco do sentimento de se estar à porta de um delírio assombroso, flertando à mais vasta imensidão do abismo mental, e dos imaginários infernos existentes em cada um de nós, e que a maior parte das pessoas nem imaginem que existam... pois bem, existem... cada um figurado à sua maneira... este poema é um pouco de lá, ou aqui, quem sabe...
Espero que tenham gostado

terça-feira, 23 de agosto de 2011

andança

mais que o tempo possa parecer castigo, não vejo a hora de tentar prever o futuro e dizer-te que cansei-me das mesmas besteiras pregadas a cara minha. outra vez que se foi rapido demais a vontade passageira de ter de conta uma felicidade pouco duradoura, eu vi em outras vezes tantas quantas fossem, para muito distante da nossa triste e pequenina realidade acidentada, a verdadeira noção de felizes sermos nós. mesmo assim tentei e repeti diversas vezes a fábula, impregnada de contrastes mórbidos, ao dizer-te sempre estar algo em que nunca me tive antes. e antes que tardasse demais eu tentei. puta que o pariu. como eu tentei fazer de nós mais que dois meros andarilhos descalçados postos a sangrar ao relento, deitados de peito para cima, esperando a chuva lavar nossa cara repugnante. se ouvisse melhor com tuas próprias orelhas, e não castrasse nossos sentimentos toda vez que prontificássemos a combater o vigor insaciável da inércia preguiçada, chegassemos talvez em algum lugar nós. mas não andamos ainda. nem um pouco nem nada.


joaoimenes.blogspot.com

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

sobras


tomo eu como blasfêmea
decrépita análise sobre amor
teu que assedia em flâmura
pairando lacônicamente breve
assegurando paliativos táteis
faz de conta ao esmo credo
de ateu fui pronto a quarentena
a dilatar pupíla minha
ver de sangue cabeça escorre
a clava que avença o juízo
rumo contrário a razão
viçando crédulos precários
munimo-nos eu tu e solidão
de pedras e tegumento
resguardo ao ímpeto relento
que fissura jamais houvesse
a separar minha mão da tua
e ao pouco esforço acatar
sendo postos caminhos diferentes
esquecemos que tinhamos em sobras
muito ainda o que lembrar

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Desolador prazer






das árvores, cascas caem co' o soprar dos ventos,
milharais secos, se dobram merencórios,
eis-me nessas solitárias instâncias, alentos
que o espírito desolam... ao silêncio...
à misantropia entregue, perduro à calmaria,
sabes quão isso me faz bem?

gorgeiam as aves negras,
e manifestas são suas profecias,
cigarras ouço
em ópera profunda...
ao crepuscular dum depressivo natal,
se consumando às montanhas, no meu rancor abismal...

jazem elementais espíritos ao meu redor,
contemplando a grandeza, dessa estranha dor
aguardando o despertar,
viceja a volúpia, co' a solidão,
distante do resto do mundo, e no paraíso a estar...
aguardando, o despertar...



terça-feira, 16 de agosto de 2011

choro


frialdade inodora
de abrupta empatia
na iminência do oposto
chego hora cedo
cansado de desgosto
vendo lágrima tua
escorrer sem vontade
ode a nostalgia
abanstema altivo sombra tua
volta ao assombro
esqueca-me
desabriga eu vontade tua
canso-me lamúrias frágeis
amor desgosto âmbito de estrago
chore comigo tu
nossa dor é passageira
vez outra que sentir
não diferença faz
certo de pouco receber
prefiro nada a mendigar
o resto que tens a oferecer
eu já não choro nem tu

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

fruto proibido


te mordi
.
senti você escorrer meus detalhes
saboreei tuas entrelinhas
.
sem descascar ou partir
comi você até o talo
.
salivei até dormir
vivi em sonho teus pecados
foto Aline Costa

controvérsia

diáspora nossa
partimos direção ao desconhecido
conhecimento fragilizado
percamo-nos em trevas
sombras de nós em outros
congruência falha
que ao sofrer tente
tensiona nuca minha
linfa não há que sacie-nos
por de fato paradóxo
erramos em escolhas simplórias
aversos a natureza
em paradigma controversos
escusamos subversivos movimentos
sempre postos contrários
casca ao miolo não atende
resignamo-nos incerto
em lamúria ferrenha de encosto
sofro eu em corpo e tu

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

tristeza

rebento-me 
efêmero sentido táctil 
hostilidade tua 
absentismo coloquial 
sempre dispostos ao excesso 
dois qualqueres pregos ao chão 
somos estáticos 
albergados frágeis em centro 
feridas expostas 
tácito adeus esporádico 
subalternos recolhos 
estivemos ávidos de desentendimento 
sofrêramos livres arbítrios 
optando pelo podre 
encubado pesar 
louvamos ao amor que resistimos 
chama nome que se preze 
dei de conta por qual tristeza 
perder eu de vista tua 
recolho-me

terça-feira, 9 de agosto de 2011

razão metafísica

onde se encaixa a inércia
da ação e reação morosa
encaixotada em teorias 
relativas técnicas distintas
foda-se a vertente cientifica
presos na mesma metafisica...
caos dor sofrimento
não existem para nós
colagens desfiguradas de átomos
simplesmente somos 
arriscar o último fosforo
misturar medo
com vontade de errar
Raciocine depressa
Trabalhe inutilmente 
Dois mais dois sempre 
resultados diferentes
e se formos semelhantes
cairemos no esquecimento
talvez criemos novas diretrizes
mas ainda somos idiotas

terça-feira, 2 de agosto de 2011

O misticismo da terra dos imortais lunares

fito o mar, que ondulante sua face reflete,
e recordações, de um luar de verão, tal me remete
a ti, ó infante sombra, no meu império intrusa,
pior foste, que um dragão, demônio, ou medusa...

impactante, uma abrupta presença senti, e pois te pertencia,
ao puxar-me as vestes, quando as escadarias eu subia,
rumo à lua, e de dez mil degraus apenas,
às quais torno, e sempre, retorno em mente às cenas...

imortal, te vais mais além do que eu imaginara,
segues comigo a jornada, e alguns degraus afrente passaste,
ao que não podeis, todavia de cá me derrubar,

às pitorescas umbras deste reino, um somente entrará...
e novamente, não! de reinar em meu recinto, uma vez já me privaste,
aquelas instâcias destruindo... suma daqui! te ponhas, sem asas a voar!