sábado, 24 de dezembro de 2011

benção

ando sendas desconhecidas

em devaneio envaidecido
orgulhoso da ignorância
benção acalma olhos
ávidos por choro
forço vontade passageira
diferentes formas de contato
experimentando o abstrato
rabisco em palavras desconexas
o amor que não acredito

sábado, 17 de dezembro de 2011

desconcertado

quanto ia
vontade não faltava


agora volto
perco


procuro
lados errados


moedas velhas


sou de fato
contrário ao que acredito


retalhos
calo-me
falo alto demais


volto
desvio
acalmo
ainda tempo


demais erros
indefesos


parede concreto
matéria
filamentos


perdi vontade
perdi a ida
perdi a volta


ainda mais que o acaso
fico aqui parado
calado
lento


sem um pingo de saudade
sem lágrima
mágoas e desejo
nada em punhos fechados


me nada resvalo
me deixo acaso
me calo
quieto


acabo

domingo, 11 de dezembro de 2011

Sectário do fogo




concedo-vos meu sangue...
ó, superiores forças, que no sol habitam!
incendeiem quão quiserem...
meu frígido empírico espirito lângue!

- feneçam os áusteros desgastes...
ao banhar d' aura sob o fulgor!
refocila-me, sol; pois hei de ter de defrontar
quaisquer temores a vir, pungir, tão quão vencera-me a dor!

venham-me, pois, sectárias flamejantes salamandras,
minha diurna odisseia permear, dêem-me as chamas,
de vigorosas vívidas lívidas livres tramas
por minha pele sorvidas, sentidas, em mãos de fogo se transformam...

o corpo em labaredas se entrega, sem queimar,
indestrutível confragra-se o selo a vigorar,
eterno, instâncias mil conquistando,
lumiando, e toda involucral humana treva destruindo...

legionárias, marchando em solares flâmulas,
lutai vós, por um de seus companheiros, mais fiel,
dêem-me o mais terrível quente fulgente poder,
a destronar os males nossos, e um novo caminho nos conceder!


quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Dizei-me por obséquio: um homem que odeia a si mesmo poderá, acaso, amar alguém?
Um homem que discorda de si mesmo poderá, acaso, concordar com outro? Será capaz de
inspirar alegria aos outros quem tem em si mesmo a aflição e o tédio? Só um louco, mais
louco ainda do que a própria Loucura, admitireis que possa sustentar a afirmativa de tal
opinião. Ora, se me excluirdes da sociedade, não só o homem se tornará intolerável ao
homem, como também, toda vez que olhar para dentro de si, não poderá deixar de
experimentar o desgosto de ser o que é, de se achar aos próprios olhos imundo e disforme, e,
por conseguinte, de odiar a si mesmo. A natureza, que em muitas coisas é mais madrasta do
que mãe, imprimiu nos homens, sobretudo nos mais sensatos, uma fatal inclinação no
sentido de cada qual não se contentar com o que tem, admirando e almejando o que não
possui: daí o fato de todos os bens, todos os prazeres, todas as belezas da vida se
corromperem e reduzirem a nada. Que adianta um rosto bonito, que é o melhor presente que
podem fazer os deuses imortais, quando contaminado pelo mau cheiro? De que serve a
juventude, quando corrompida pelo veneno de uma hipocondria senil? Como, finalmente,
podereis agir em todos os deveres da vida, quer no que diz respeito aos outros, quer a vós
mesmos, como, — repito — podereis agir com decoro (pois que agir com decoro constitui o
artifício e a base principal de toda ação), se não fordes auxiliados por esse amor próprio que
vedes à minha direita e que merecidamente me faz as vezes de irmã, não hesitando em tomar
sempre o meu partido em qualquer desavença? Vivendo sob a sua proteção, ficais
encantados pela excelência do vosso mérito e vos apaixonais por vossas exímias qualidades,
o que vos proporciona a vantagem de alcançardes o supremo grau de loucura. Mais uma vez
repito: se vos desgostais de vós mesmos, persuadi-vos de que nada podereis fazer de belo,
de gracioso, de decente. Roubada à vida essa alma, languesce o orador em sua declamação,
inspira piedade o músico com suas notas e seu compasso, ver-se-á o cômico vaiado em seu
papel, provocarão o riso o poeta e as suas musas, o melhor pintor não conquistará senão
críticas e desprezo, morrerá de fome o médico com todas as suas receitas, em suma Nereu
(34) aparecerá como Tersites, Faão como Nestor, Minerva como uma porca, o eloqüente
como um menino, o civilizado como um bronco. Portanto, é necessário que cada qual
lisonjeie e adule a si mesmo, fazendo a si mesmo uma boa coleção de elogios, em lugar de
ambicionar os de outrem. Finalmente, a felicidade consiste, sobretudo, em se querer ser o
que se é. Ora, só o divino amor próprio pode conceder tamanho bem. Em virtude do amor
próprio, cada qual está contente com seu aspecto, com seu talento, com sua família, com seu
emprego, com sua profissão, com seu país, de forma que nem os irlandeses desejariam ser
italianos, nem os trácios atenienses, nem os citas habitantes das ilhas Fortunadas. Oh
surpreendente providência da natureza! Em meio a uma infinita variedade de coisas, ela
soube pôr tudo no mesmo nível. E, se não se mostrou avara na concessão de dons aos seus
filhos, mais pródiga se revelou ainda ao conceder-lhes o amor próprio. Que direi dos seus
dons? É uma pergunta tola. Com efeito, não será o amor próprio o maior de todos os bens?

Erasmo de Rotterdan

sábado, 3 de dezembro de 2011

Crocodillos de esgoto



À meia noite,
eles vão voltar,
invadirão a cidade,
vão nos matar!

despercebidos
atacarão,
tão repelidos,
retornarão!

crocodilos de esgoto,
uma praga assassina,
farão a chacina
por cada quarteirão!

nas ruas incautos,
das cidades imundas,
se arrastam em asfaltos,
agora sujos de sangue...

o terror habita
as mentes humanas,
as carolas profanas,
civis e soldados,
que o mal se repita!
estão todos condenados,
padres e políticos,
ladrões inocentados,
todos sob a mira,
a mira da morte,
a morte no corte
dos dentes vorazes!

o terror habita
as mentes humanas,
as boiadas insanas,
todos alienados,
que o mal se repita!
estejam todos ferrados!
tolos e criticos,
canalhas armados!
e na calçada se vira,
o fraco e o forte,
ambos sem sorte,
sob as garras mordazes!

nas ruas incautos,
das cidades imundas,
se arrastam em asfaltos,
agora sujos de sangue...

crocodilos de esgoto,
uma praga assassina,
farão a chacina
por cada quarteirão!


Bem... essa foi uma singela letra que eu escrevi tocando violão... se curtir comenta ai, vlw
\,,/ *__* \,,/

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

No meio

Estou sentado bebendo.
Criando vozes pro anjo
que não desce.
Fazendo eufemismo pra facilitar meu convívio.
Meu sorriso não diz nada de mim.
Mas brinco com o que é alheio.
E solto palavras ao encontro de outras verdades.
Ao homem comum que come e morre.

domingo, 27 de novembro de 2011

sociedade

libidinosos ratos
secreta repressão
castramos nós
cheiro do esgoto
quente arde e coça
fumaça e basculantes
herméticos abrigos
antipatia sociopatia
patologia coletiva
afobados corpos cansados
castigos sofridos
sem direção qualquer que siga
perdidos em caminhos errantes
clamamos por um deus plastificado
espasmos involuntários
guiam displicentes respostas
buscando em retórica ignorância
toda a verdade maculada
hipócritas organizações desgovernadas
propostas respostas certezas
incertezas expostas polêmicas
direitos ridiculos redundantes
força desnecessária ilusória
adeus sociedade
capengamos vezes todas
em que erramos caminho
frágeis pernas errantes
desviando-se de gente podre
roupas velhas e sujeira
cobertores manchados
caímos cara em merda ressecada
choramos óleo disel
impermeável cidade
sociedade privada
estagnada
poça de lama agouro
sofrido amargor
corremos caminho contrário
chegaremos quem sabe
amanhã

choro

o choro 
que chora
ri de nós
o canto
que encanta
assuta
e voz e berro
canta quanto for
cantamos dor
assobiamos
ressabios
ressentidos
repetidos
sorrisos
chora tu
ri de mim
ri de nós
chora eu
eu mais tu
em nós dois
um número
de choro
sem fim

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

almas

todos os resquícios como quase sempre
pois insaciável percorre-me essa ânsia
desejo desprovido de censura
e o coração perde qualquer razão
à loucura o amanhecer agradece
e vocês surpreendem-se ao me ver
mas o cruzar de nossos olhares simplifica os sentimentos
e a conexão de nossos versos satisfaz algumas dúvidas
e o toque de nossas almas preenche alguns sentimentos
mas ainda assim questionamos nossos passos
que nos desequilíbrios atenuam toda a dor.

sábado, 5 de novembro de 2011

castigos

programação
repetidas vezes vozes
carregamos imundices
deselegantes derrotas sofridas
esmos singelos problemas
conturbo disturbo masturbo
pondero pormenores segredos 
meu e nosso momento hermético
calorosos castigos
aqueles que causam delícia
sobre mim cai tu lentamente choro
carne cansada de variações térmicas
leito peito quieto barulho sossego
silêncio e calamos boca suja
palavras chulas amor
perfeitamente dor
delicadamente ódio


sexta-feira, 4 de novembro de 2011

sol

Ver o sol nascer assim torna o dia completo em luz!

arte


sentidos

nariz de palhaço e o sorriso das crianças
ensinam a viver e a reinventar na desesperança

significa

horizonte em prata que reflete a alma
imensidão do mar que transcende a intensão

sentimentos livres que não respondem,
mas transmitem o significado da existência humana.

pigarro

rosto em pedaços
veia que salta
imbecis que só
pigarro
queima cheiro fumaça
merda enlatada
congruentes imperfeitos
amores pulverizados
sou eu e ninguém
choro carregado
mentira
foda-se qualquer tentativa de verdade
quem me diz isso sou eu
alguém sem nada a dizer
quem não quero ser
e vejo...
janelas trancadas
dentro fora porta que rumo tomei
cheguei primeiro
depois o deposto
sopostamente primeiro
depositei confianças falhas
em cimento e poeira
prefiro a noite
tremo pernas do escuro
cansados olhos
cansamos eu
cansados
cansei

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

sombras

monótonos assombros luz quebradiça vejo futuro questionável em vestes farrapos sofridos demônios esperam ansiosos corremos castigo cansados de corpo olhares pasmos observamos estragos em retóricas amargas depreciamos amores abandonados desejos andam em sombras estáticas sonhar com o que basta que indolência acalma resta não mais nada

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A real profecia

lá está o rei, e do outro lado da rua o mendigo,
do outro lado...
das grades do lixão, lá está um armado infante,
ingênuo, desconhecendo a consequência do que tem às mãos,
lá está uma velha comendo seu encardido pão,

esse é o futuro? frio como ferro, confuso como sua mente.


todos são inertes,
seu mundo é cinza, opaco, luminoso,
estão todos abrigados em seus mundos pessoais,
loucos, lúcidos, quase que ao mesmo tempo,
jubilam-se os governantes e generais inexpugnáveis,
do exercito das maquinas vivas ,


estamos todos sós,

diante do sofrimento, diante da metamorfose,
de nossas ideias, do nosso mundo estagnado ,
ele cresce como a flor, ele derruba como o vento,
te arrasta como a correnteza de um rio,
no mundo bizarro, todos são servos de suas proprias criações.


as máquinas, a natureza de plástico,
miseráveis, venderam a salvação,
e os salvadores malévolos agora vos levaram ao abismo,
estão todos pagando, a pena,
no mundo opaco de metal e plástico,
são todos bestas, criadores do caos,


com suas consciências afetadas,
nas ruas violentas das cidades em ruinas,

e dos psicóticos, das prostitutas, e promíscuas santas...
dos drogados, sem futuro, tratados como vermes,
vem a revolta, vem a rebelião,
o império está à ruina final, não há mais riquezas, não haverá o que perder.





quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Montanhas de vidro

a solidão sopra em teu semblante,
a azul agora engole o horizonte,
mire a grama, o chão restante,
dissolveu-se após percursado...

as escadas de vidro trincaram-se eternas,
por quais logramos incansáveis co' as pernas,
feitas de água humana, tão sana salgada...
uma noite abismal nos consome, sem madrugada!

sem asas pairamos, piramos sem pouso,
encarnados delírios mutáveis,
a mercê dos desígnios naturais, tão belos e crueis,
amar eternamente uma nuvem, sequer eu ouso,

amar as núvens, disformes princesas,
uma era a cada dia, as ver se espargirem,
defrontar-se aos fieis elefantes alados;
soldados de pedra em besouros montados...

sem asas pairamos, piramos sem pouso,
encarnados delírios mutáveis,
a mercê dos desígnios naturais, tão belos e crueis,
amar eternamente uma nuvem, sequer eu ouso,

jamais ver um dia, o passado recente,
os sonhos cremados, novamente...
vislumbrar formosos campos, nunca os mesmos,
os tesouros sentidos, trocados...

as marcas deixadas,
feridas de espadas,
num mundo de palha perdidas,
o mar de tempo à terra... mil partidas...

as escadas de vidro trincaram-se eternas,
por quais logramos incansáveis co' as pernas,
feitas de água humana, tão sana salgada...
uma noite abismal nos consome, sem madrugada!




Essa é a mais uma das letras que eu escrevi...
comentem aee. vlw

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

7 Degraus da Alquimia do Agora

Os 7 degraus da alquimia interior, o caminho da ascensão natural da vontade Divina e única, singular do ser.

I - Os Elementos

Estes são as fagulhas da electricidade vigente dos olhos, dos pulsos e dos arrepios. Também conhecidos como sensores do sistema linfático ativo-antena, é em sua estrutura, o movimento cíclico das têmporas e o ativador única da hipófise. Controlador este, que quando em sua actividade extrema, impulsiona muitos campos harmónicos a se ressonarem em expansão, comos que em cadeia suprema de superação sensível e térmica das relações do bioma espiritual.

II - Os Obstáculos

São grandes desvios do reto, do perene a si mesmo, do sensível a si mesmo quando relaxado. É uma extensão da dúvida, caçador dos seres do sonho. É como uma flecha avessa ao impulso da própria flecha em se alcançar. Pode proporcionar a guinada ao alcance interior provido de pura energia branca e límpida.

III - A Ascensão

Como uma jarra cheio de água da fonte divina em meio ao deserto atados do poder de erguer-se em dizer. “Posso aguentar mais sem água!” Como jazida de rubis direcionados ao sol ao meio dia, uma cor plausível somente aos olhos de quem já passou por muitas fases da evaporação espiritual. O descansar do elevar-se físico.

IV - A Existência
Detentora dos mais repletos reflexos da veia humana e super humana. Mantra triangular de nossos cantos interiores e sensíveis somente ao nosso eterno individual, nosso fragmentado ser em espelhos de revitalizarão cósmica. Como um cometa que tomba seu equilíbrio e mira num planeta para sentir-se, eis a existência que auto posiciona-se antes dos tempos e dos espaços onde seu fluxo se torna aparente.

V - A Atitude
Acordemos das trevas da preguiça, desviemos dos asteróides pesados, que busquemos o verde original das trilhas do ser. A Atitude é o sabor dos sentimentos, o alcance dos nervos, o plural da morfologia celular em um tom de divino e sereno. A atitude é a gravidade do ser.

VI - A Coerência
Sem ela não conseguimos pousar ao mundo dos eléctricos sem o abraço neutro que se necessita. É como uma lagoa depois de um mar, um alívio um desapego das tensões, um voltar ao lar esquecido. A coerência é a amiga da flor em seu encantos em florescer-se em cores harmónicas. É o caminho das cordas do vocal, é o poder garganta do ser, é o que assopra o vento, a mensagem do espírito.

VII - A Flor
Se pensássemos em ser como elas, teríamos somente o balance verdadeiro em nosso momento transitório. Brotaríamos somente luz harmonizada e feita por dedos sacros e elevados. Seríamos seres filhos de sóis que se comunicam em cores espectrais. Seríamos mestre eme telepatia, conheceríamos muitos mais do sol e da lua, estaríamos muita mais com as estrelas e os cometas e as cadentes estrelas do surpreender-se. Caminhamos para o ser flor, esse ser das cores do vindouro que inventará, desde o sentir, o novo calor das cores......

ode ao amor


para que te para mim eu
dizer crer em talvez dizer adeus
dói demais demais no peito
peito cheio de mágoa pigarro
cigarros impregnados de avisos
cansados dos velhos erros
eu te amei mas também cansei
para que te queiras
para mim que quero
para que te esqueças
o mesmo defeito eu
fui e fomos todos embora
cansados de esperar do lado de fora
de dentro que vimos o mundo à fora
tudo de mal acontecer a nós
e quando eu finjo que nada tremo a temer
temos um pouco para dividir
caso contrário eu volto
do lado avesso demoro
o que de mim descobrir tu queres roubar
se não nada tenho
não tenho nada tudo
que você queira precisar
para que te para que amei à toa

sábado, 22 de outubro de 2011

Disse o Tornado




Aqui mesmo, frente ao mar dos não alcances de nossos cantos...
Como seres grande meu pensar...disse o vento a abrigar-se
Somos das espumas das ondas que refletem a invisibilidade das causas....ainda que tenhamos de provar o improvável, somos do lampejo do raio distante....sensível em todos os lados por respeito das aberturas intercomunicativas sensoriais,,,.....
disse o vento do abrigar-se....
Cantamos o passo do compasso eterno do fluir-se, ainda que tenhamos de levantarmos as mãos para os céus que não parecem responder...no fundo temos a animo das mais grandes esferas, assim são as costelas da eternidade e seu corpo térmico das aflições....
somos do opulento sagrado do renovar-se....
disse o filho do vento do abrigar-se....
Somos do novo vento, do novo não abrigar-se, por já ser o próprio impulso....em alcançar a si mesmo para estender o mais simples dos hemisférios, o elevar-se....
disse o tornado.....

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

rua

entre falhas verdades
digamos fosse diferenciado
horas que passam surgem
fatos outrora questionáveis
são fixados em paredes mofadas
caqueixamos em momento oportuno
sorrisos estáticos em veredas simétricas
somos problemáticos dilemas
sofrendo falsos alarmes
diferente aos jornais que nos forram
notícias de paz
seguimos um caminho fechado
sombra e cuidados amônia
latejando palavras em tragos
dizer ao que mais nos perturba
preferimos ficar em silêncio
e ainda assim nada muda
seguimos amando apressados
o tempo valiosa promessa
dor que acalma cessa e acorda
justo quando dormimos na rua

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Paraty indo


Quero falar dos grandes ventos que aqui alçam vôo
Quero falar das colinas que aqui formam a Atlântica dos seres
Quero falar das gotas de índigo toque, do azul profundo e liso do mirante mar
Quero falar dos assobios das andorinhas, as mentoras do nascer solar
Quero falar entre as quatro igrejas esquecidas, sob aspecto de sociedade antiga
Quero falar sob as tortuosas veias, das ruas arcadas, da proteção histórica
Quero falar dos contos que ouvi, aqui dos invisíveis e presentes aromas

Quero falar de Paraty, daqui poder gritar e ouvir

Quero falar dos marasmos encantados, dos entraves espiralados esquecidos
Quero falar dos cadentes raios, dos iluminados seres da floresta densa
Quero falar dos anfiteatros paralelos, das esquinas movimentadas e abandonadas
Quero falar das correntes e sobre todos os acorrentados e impulsionados entes
Quero falar da superficialidade das decisões que mantêm Paraty viva
Quero falar da onipresença, da inesperada chuva em plena fanfarra turística
Quero falar dos frustados que aqui se acobertam esperando por calor veraneio

Quero falar dos apogeus e de todos os atravancados veios do ouro roubado
Quero falar dos escravos, libertos por Deus e aprisionados por brancos, Juruás
Quero falar do novo tempo bloqueado, do prazer enjaulado de um gosto atômico
Quero falar da inacessibilidade da educação e de todas as exigências formais
Quero falar do regionalismo autoritário e de todas as suas disfunções legais
Quero falar dos adeptos ao vento mensageiro, pessoas terrais e assuntos difusos
Quero falar das rodovias e de todos os seus buracos atrativos, de sua massa perigosa
Quero falar da verdade, e em Paraty não se pode dizer, a não ser, o poetar do sigilo

Quero falar das beatas e das colunas centrais de uma localização distinta
Quero falar das missas e de todos os encontros desencontrados dos nativos
Quero falar dos omissos e dos lascivos, dos catedráticos que daqui se foram
Quero falar dos rastros atômicos, sem medo de repetir, o que se pode repetir e estragar
Quero falar dos anestesiados pela a grana nuclear, dos projetos falsos de humanidade
Quero falar dos efêmeros impulsos de uma sociedade aprendiz, de um cetro e seu relento
Quero falar dos assassinatos, dos inatos, dos ingratos e dos que fazem sigilo a dor pura

Quero falar da crescente onda, das tsunamis para as matas verdes locais
Quero falar do abandono dos animais, dos genocídios astrais, da cultura assassina
Quero falar das doenças e das epidemias, dos assolados e dos sofredores
Quero falar da anestesia povoadora, das mares baixas, dos vazios tonéis
Quero falar dos desencantos dos lagartos e dos muros edificados a caminho
Quero falar das cavernas do ser nativo, do real adepto da noosfera

sábado, 15 de outubro de 2011

descuido

fotografias industrializadas
insultos distintos
foco alternado
sintomas de desinteresse
eu vi seus olhos vermelhos
gritando por socorro
de volta ao começo
desistimos de entender
ao menor sinal de cuidado
descuido
somos criaturas sem forma
criando rumores
alcançando estranhos
nos encontramos vazios
conformados com palavras
perdas simuladas
somos o que ninguém pode ser
fingindo ser
voltamos a isto
a esquecer o que se foi
esquecer nossos rostos
faces cegas de ódio
perdidas em assombros monogâmicos
mais ninguém
não mais nós

Um vento de dentro




teu interno conflagra, queima a não suportar,
em ventanias explode, é preciso gritar,
se faz de importância, um vazio preencher,
sentido outorgar, pr' a este plano a se erguer;

brado de tempestade, d' alma que pinta,
e à vacuidade cria, mui vasta e suscinta,
toda a forma, que é vista e contemplada,
toda esta forma, cuja vida que lhe é dada;

terra se fazendo,
que outrem pisará,
os pés aquecendo
e com as mãos tocará,
mesmo em mente,
irrealmente,
vai lá, a ouvir
o vento, tão contente,
ou lá ir a sentir
outro deprimente
tão quão mais uns mil
neste vão e fértil
espaço,
de traço
tão sutil,
ou o aço
d' agulha
que torna
a lã uma fagulha...

de assídua força, a humana destreza,
d' onde se engendram tantos intentos externos...
eis o humano e simplório dizer e pensar,
no que quiser, e a faculdade de o consumar...




quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Detrás a porta

os elefantes estão ao céu, em viagem,
queria isso lhe contar... vagam libertos,
e eles, consigo levavam em abertos ares;
os outros tão brancos flancos d' arca fugidos,
me diga, tu estás onde...? os quero mostrar!

à tua ausência em toda parte, sinto mergulhar...
ante à trancada porta, eu vejo silêncio,
onde estás? me deixando comigo mesmo,
me espreitam tantas sombras, forças caladas,
rindo do dia que fulge, limpo e intenso...

penso talvez, no sempre, sinto o vácuo,
alojar-se às veias, mente e alma,
provo à solitude, elixir de meu eu;
e tal porta vislumbro, some o resto
de horizonte, trevas vejo à volta...

desvela-se o abismo, minha nefasta ternura,
revela-se em meu cerne... ó diabólica candura,
és o horrendo refúgio, a devorar,
tantos moribundos falsos rostos meus,
co' o tempo sujeitos, a se dissipar...!

que em sua doce placidez, obscuro fulgura,
condenando-os à mais vasta e atroz tortura...
uma supra-terrena dor conjurando,
em terrorosas manifestas lanças, mirando aos céus,
e que empunhadas são, por vís deformados retratos surgindo;

de minha calada alma, que monstruosamente convulsiona,
perturbada e tão inquieta, concebe;
à boca, o asqueroso feto do que fora um dia,
eis o defrontar da aberração, gritando verminosos venenos...
eis-me à mórbida reação, enterra-lo vivo sob seus aterrorizantes gritos...

ó demônio meu, ó demônio meu...!
ensanguentado cadáver mirando o céu,
voráz foi meu ímpeto, ao que se sucedeu...
não serei... como vós sois... não serei eu...!
mais um escravo deste mausoléu!

nem suponho, nem por medo, tal tornar-me,
mais um traste destes ser, nesse cativeiro...
uma rélis morta herança, um carniceiro;
no ápice d' um mistério, do que se arme,
detrás essa simplória porta, trancada...





Pois bem, eis que vos venho com esta... que eu gostei pra caramba, e a imagem eu editei no paint, hauhsuahsuhauhsu espero que gostem...

http://nocturnosombrio.blogspot.com/

Cicatrizes




desfalescido, quão agonizara aquele negro pássaro,
que soturno, a interpérie houvera contemplado,
sob os pastos e seus ares, de si desnorteado,
pranteando à insânia, dum vil amor caro...

e as asas cujas ferira, e rira quando as vira,
o louco imbatível, que à grama se estira,
a neblina tanto amara, não percebendo;
sua ardilosa oculta força, ardís escondendo...

e eis que ao mais alto cume se aprumara,
a névoa ansiando, novamente afrontar,
viera, pois, a esperada hora dela tudo tomar,
vencera este corvo, quando prostrado a enfrentara.
a deixando, presunçosa, passar... e longínqua se extinguir...

abrigo

certos de falhas inodoras
vagamos serenos outros passos
erros vazios abstratos
soccoro imediato
soma das dores
ódio remédio amargo
vejo ao recanto do abismo
sombras e nada mais
perdidos no tempo
passos curtos
sofremos intermináveis julgamentos
ao que acalma mente
insana consciência morta
natureza nossa opaca
calamidade interminada
exposta ao acaso
e em caso de abrigo desnecessário
escondemos nós em solidão

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

feliz

secos, quebraram-se os espinhos
sangrar-nos não fazem mais
emboloraram as cartas esquecidas
e já não caem as lágrimas doloridas

procurei forças remoendo em todo lugar
mas os nós desfeitos fui incapaz de reatar
no reflexo do seu olhar nos vi em chamas
e pelo ar espalhadas cinzas de nossas cores

hoje, ainda mais, quis voltar a ser criança
pra feliz pintar na tristeza esperança

terça-feira, 11 de outubro de 2011

flores

levantamos um grande fogo
você me pareceu adorável
enquanto ardia em chamas
o desenvolvimento sustentável
não tem mais tanta graça
eu continuo insistindo
canalizando todos os meios
entre principios do fim
onde se foram para trás
duas grandes historias
minha inspeção pessoal
da composição original
perfumou com as flores
o que perdi no caminho
quando preferi carona
então a visão entrou em colapso
para enxergarmos o indiferente
perdido bem no fundo
dos nossos erros eminentes
depois seguimos qualquer rumo

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

AMANHECER

Escuridão de noite
noite fria
longa de inverno...

Dia que não chega
esperança que vai
nas horas da noite
paradas e cruéis...

noite sem lua
noite com chuva
se foram as estrelas
e o dia não vem...

alma anoitecida
sonhos acordados

acordes da insônia
silêncio que grita...

meus pensamentos já nem querem mais dormir...

meus olhos que pesam
lágrimas que caem...

olhar fixo no nada
meu quarto é meu mundo
minha cama é meu mar...

indignações sufocadas
desespero nas metáforas
antagonismos que questionam...

coração dilacerado,
são espadas!
que me cortam e me dividem
me incendeiam e me congelam
me trazem para dentro de mim...

alma cansada da batalha
desfalecida na luta
fragmentada em pedaços
sem coragem de levantar...

escuridão de noite
fria
longa de inverno...

ainda não escureceu!
acaba de amanhecer
...

sábado, 8 de outubro de 2011

molduras

ao passo que caímos
pedaços de nós caminhos opostos
vejamos entre quadros
molduras erráticas
herméticas sensações de conforto

procriando pasmos palavras
em que momentos uns inferiores
nos aquecemos pouco de mais
visamos concórdia e benefícios
juntando acidentes programados
entramos em conflito
e saímos derrotados

resplendor

hoje o coração que levo no pescoço não se enrolou ao meu escapulário
pois sua suavidade me alivia e fortalece... protege.

e pelas noites que amanhecem
nas quais buscamos luz no horizonte
onde percebemos novas possibilidades
vivemos dores e rendição
sublimamos odores e pecados
e descobrimos que não... não é em vão.

então vem a força para calar quando a garganta seca
para manter os olhos bem abertos quando desejamos a cegueira
e resplandecer a plenitude na tempestade.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

o visionário

decrépito visionário
de idônea lascívia
ronca forte peito
encharca-se tu em vapor aquoso
arriscando nós passos dignos dos imbecis
fraquejamos diversas vezes rumo
ao que contrário presumo vejo falho
arrancando mágoas aos cachos
podres emaranhados
vulgos em sabedoria
esquecemos o caminho
geramos falhas visíveis
sabemos pouco de nada
onde calo boca tua com lamúrias
irráscivel horda de espasmos
arrumada em devaneios esporádicos
onde cume criatividade cessa
vemos ignorância
como salvação desesperada

terça-feira, 4 de outubro de 2011

outubro

outubro chegou 
e no ar desse mês dez
as aflições e paz de mais um fim de ano
auau

domingo, 25 de setembro de 2011

íris

O reflexo da minha íris me olhou profundamente pelo sangue que escorreu quando o espinho perfurou a pele macia do meu pulso... senti minha alma vazar e me encarar... transformar-me no vermelho singular da pétala seca da rosa, tão vivo quanto as cinzas de meus sentimentos.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

auto

salvo a compreensão 
carecemos entendimentos forjados 
havendo espaço em tempo pouco 
adrede que chora em peito manso 
ao paradoxo mais que imperfeito
inferimos maus agouros 
fora garganta que sangra e arde 
coro em vozes execradas fazemos
impróprio o veneno 
das horas antecedentes ao fracasso 
movendo-nos relapsos desencontros 
negamos as mãos maculadas 
castigamos em cama 
sentimentos enzimáticos 
saimos passo a passo 
de finório matreiro 
já demais saciados 
de tantas lembranças fuleiras
cansamo-nos aos prantos 
cansamo-nos

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Paraty ainda sonha




Ilusão pássaro da paisagem.
A cidade evolui e os muros ficam altos.
O que come a carne, dar de seu sofisma em grandes obras.
Diga ao povo que grite e que tenha memória.
E que não se aplane a letargia aos afagos de ignorantes.
Homens de bravatas, calados em suas vaidades.
Diga ao povo que existe uma voz, uma voz uníssona diurna.
Que atina a realidades de nossas mesas.
Que é preta, caiçara, branca e que trás na revolta a verdadeira equidade.
De bairros, de gente sem nome que constrói em sua madrugada
a esperança cansada de pés e ombros doloridos.
Diga ao povo que a fruta é verde, mas que é nossa e que tem lágrimas e terra.
Diga ao povo a saudade que o amor tem das pessoas.
Que a droga que come as paredes tem nomes, como desemprego,
baixo salário e medíocres estímulos acadêmicos.
E não aos shows que entorpecem os estômagos a verdadeira fome.
Basta ao nepotismo são os nossos ruídos que fizeram suas cadeiras.
Diga ao povo que retire o estandarte de suas lembranças.
Há luz no interior das casas e há homens que querem sua repulsa.
Seu calor de vários anos de mesmices de promessas lúdicas.
Existe uma voz, que precisa de vozes, que precisa de muitos nós.
Paraty sonha. Paraty ainda sonha.

Rodrigo Passos

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Todas as ruas

A casa suja.
A arma não armada, mas sempre amada.
A gordura na boca do cotidiano.
Os sexos das novelas. O nome de Deus. O nome do Eu.
São tão bonitos os óculos ray-ban.
A autocracia do espelho rege a marcha de prostitutas.
Não me falem de paz, enquanto não converterem os anjos.
Qual é o nome da janela?
Qual é o nome do mal?
A poesia que toma suco de laranja não é minha.
A minha poesia está: Com o barulho da barriga.
com o biótipo e as novas senzalas
com a raiva
com a sede
com a pólvora
com a confusão
com o esgoto.
Nas religiões dos becos.
Nas gírias das muretas
Na antítese dos heróis.
Nas pipas que sorriem do céu, enganando o amanhã.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

descompasso

não me jogue suas culpas ou queira definir meus defeitos
em mim não cabe nada além do meu eu e meus trejeitos
pode parecer egoísmo ou egocentrismo vão
mas superficialmente são tons de personalidade
e no fundo pontuações de sobrevivência

já me entreguei à outras possibilidades
mas só o que consegui foi que me vendessem por vaidade
então os caminhos me jogaram nessa condição
por alternativas cruas e nulos preconceitos
na frieza sólida de sua sutil regência

agora por meus passos semi descalços
trilho essa estória procurando apagar os encalços
para resguardar de mágoas meu ainda doce coração
orientando a mente em dignidade e decência
fortalecendo a alma em minimizar falências

sombras de nós

olhares que compõem situações descompostas
bocas que ainda encantam relações desencantadas
cacos de sentimentos soltos em corações amarrados
novas fases esfarrapadas dos mesmos velhos momentos
imaginações configurando o terrível inimaginável
vida repleta de sonhos que já não satisfazem
todo nosso investimento como reflexo em um espelho sem imagem
questionamentos transgredindo tudo o que mal foi planejado
e ainda guardamos o retrato de nossas sombras naquela noite indesejável
sobra de agonia e falta de autopiedade

boca

inexorável controversa ilusão
fulguramos amores pequenos
esgrafiado pregador do ódio
a boca que cospe amarguras
mesma de doces solfejos
rasga morde em frios dentes
úvidos lábios complacentes
resiliêntes movimentos profanos
esgana em sangue garganta lingua
angústia de fato
em que momento qualquer estático
o mal desinibido acalma a face
voltamos então a sorrir

domingo, 11 de setembro de 2011

Achados e Perdidos

Em busca de uma sinceridade que tentam extinguir
nos aproximamos de realidades paralelas
em submundos que se assemelham à ilusões
na nossa contracultura que não é apenas virtual.

Não aceitamos qualquer proselitismo comprado
ou teorias conspiratórias baratas
menos ainda esses pré conceitos falidos
e em nos achar perdidos, acabamos nos encontrando achados!




































Dedicado à Rodrigo e Santiago, que trouxeram cor à minha tarde nesse domingo nublado!

quase

Por vezes me sinto em tempos estranhos e quase errados...
sinceridade é quase defeito
amor é quase pecado
ser feliz é quase raro.

sábado, 10 de setembro de 2011

novas cores

‎... porque depois de muita dor nascem novas cores... 



e no mais íntimo de nós pintamos novos sonhos.


Por fim, nos percebemos fortalezas!

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

essa chuva

é coração de vento
hora de reforçar a certeza de ser sua alma de ferro
revigor e louvor que a força vem
e de seu insurgir concretiza coragem
faz transcender a ilusão e transparecer nossa verdade.

não quero mais o que já não nos serve
e de tudo levaremos sim o que foi beleza e todo o sonho.

que essa chuva lave meus cabelos
que a maré cheia suavize nossas dores.

sábado, 27 de agosto de 2011

Elemento

Queria fazer um poema que te tocasse.
Que até no raso fosse profundo.
Um poema que não lhe falasse de fé.
Mas que fechasse suas fissuras.
Esse poema não teria cheiro, não teria cor.
Não teria a métrica de um poema, mas seria vivo.
Viva como a água que te banha na madrugada.
Água que te fala palavras ingênuas.
Esse poema seria nosso, só nosso, sem publicidade.
Seria nosso silêncio, nossa fusão, nossa profecia.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Pragmáticas conclusões



Marionetes não fritam ovos!
papagaios engolem "vrido",
ninguém, em quaisquer povos,
com isso houvera rido...

canários miam,
gatos voam,
cenários caíam,
canalhas entoam...

a ode da balbúrdia!
e ao cataclisma dançam todos,
chovem rodos,
que a tsunami remedia.

os ovos caíram ao chão,
papagaios morreram de congestão,
termina esse poema,
porém protela-se, o humano dilema...



quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Um grito do abismo



à treva estrida o grito,
agudo e mortal,
atroz terroroso,
o rasgar do silêncio,
e por qual, me influencio...

torturoso ecoar da infindável profundeza,

à inconsolável beira do abismo do inferno...
que me ao cerrar dos olhos, ostenta a grandeza,
de em nada com a perspectiva diferir,
eis-me ao tormentoso arrepio - o medo de cair...

revela-se a face, dum espectro do submundo,
veloz, repentino,
me arrastando ao fundo,
do abismo mental,

um viveiro do mal...

terrivel semblante disforme, de eterno desespero,
exangue demônio ao voráz exaspero...
esfolo as mãos por desse chão não me soltar,
o abrupto desvencílio, à reação horrorizada...

o contemplar desse exílio, nesta noite, maculada...




Quem sabe esta vez, pude eu, exprimir um pouco do sentimento de se estar à porta de um delírio assombroso, flertando à mais vasta imensidão do abismo mental, e dos imaginários infernos existentes em cada um de nós, e que a maior parte das pessoas nem imaginem que existam... pois bem, existem... cada um figurado à sua maneira... este poema é um pouco de lá, ou aqui, quem sabe...
Espero que tenham gostado

terça-feira, 23 de agosto de 2011

andança

mais que o tempo possa parecer castigo, não vejo a hora de tentar prever o futuro e dizer-te que cansei-me das mesmas besteiras pregadas a cara minha. outra vez que se foi rapido demais a vontade passageira de ter de conta uma felicidade pouco duradoura, eu vi em outras vezes tantas quantas fossem, para muito distante da nossa triste e pequenina realidade acidentada, a verdadeira noção de felizes sermos nós. mesmo assim tentei e repeti diversas vezes a fábula, impregnada de contrastes mórbidos, ao dizer-te sempre estar algo em que nunca me tive antes. e antes que tardasse demais eu tentei. puta que o pariu. como eu tentei fazer de nós mais que dois meros andarilhos descalçados postos a sangrar ao relento, deitados de peito para cima, esperando a chuva lavar nossa cara repugnante. se ouvisse melhor com tuas próprias orelhas, e não castrasse nossos sentimentos toda vez que prontificássemos a combater o vigor insaciável da inércia preguiçada, chegassemos talvez em algum lugar nós. mas não andamos ainda. nem um pouco nem nada.


joaoimenes.blogspot.com

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

sobras


tomo eu como blasfêmea
decrépita análise sobre amor
teu que assedia em flâmura
pairando lacônicamente breve
assegurando paliativos táteis
faz de conta ao esmo credo
de ateu fui pronto a quarentena
a dilatar pupíla minha
ver de sangue cabeça escorre
a clava que avença o juízo
rumo contrário a razão
viçando crédulos precários
munimo-nos eu tu e solidão
de pedras e tegumento
resguardo ao ímpeto relento
que fissura jamais houvesse
a separar minha mão da tua
e ao pouco esforço acatar
sendo postos caminhos diferentes
esquecemos que tinhamos em sobras
muito ainda o que lembrar

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Desolador prazer






das árvores, cascas caem co' o soprar dos ventos,
milharais secos, se dobram merencórios,
eis-me nessas solitárias instâncias, alentos
que o espírito desolam... ao silêncio...
à misantropia entregue, perduro à calmaria,
sabes quão isso me faz bem?

gorgeiam as aves negras,
e manifestas são suas profecias,
cigarras ouço
em ópera profunda...
ao crepuscular dum depressivo natal,
se consumando às montanhas, no meu rancor abismal...

jazem elementais espíritos ao meu redor,
contemplando a grandeza, dessa estranha dor
aguardando o despertar,
viceja a volúpia, co' a solidão,
distante do resto do mundo, e no paraíso a estar...
aguardando, o despertar...